segunda-feira, 25 de julho de 2011

Você é maniqueísta?




Talvez alguns dos leitores se tenham perguntado: «Mani... o quê? Não terá sido um engano de alguém que deseja falar de manicures ou de maquinistas?»

Na antiga filosofia escolástica, começava-se a lição explicando os termos. É o que faremos também nós.
Filho da redução do pensamento e pai da intolerância, o maniqueísmo tem por fundador Mani, um sincretista religioso que viveu no século II da era cristã. Juntando elementos do cristianismo e de algumas religiões orientais, defendeu uma visão dualista da história e da sociedade. De acordo com sua doutrina, o mundo está dividido em duas forças antagônicas: o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, Deus e o Diabo, num estado permanente de beligerância. Saiba ou não saiba, queira ou não queira, cada ser humano, pelo simples fato de nascer e viver, passa a integrar uma das duas frentes.
O maniqueísmo parece ter-se integrado tão profundamente na alma da humanidade, que só se extinguirá... no final do mundo! A estruturação dualista da sociedade é um dado inquestionável. A tentação de sempre é colocar as pessoas, os acontecimentos e as doutrinas em margens opostas, num antagonismo irreconciliável: direita/esquerda, opressor/oprimido, alma/corpo, amigo/inimigo, capitalista/comunista, católico/evangélico, homem/mulher, povo/elite, índio/fazendeiro, branco/negro, e assim por diante. O aspecto negativo de tudo isso não são as diferenças – são elas que enriquecem a sociedade quando se busca a comunhão, a justiça e o bem comum –, mas a tendência a olhar para os outros como adversários que precisam ser eliminados, através da luta de classes.
Quem leva o maniqueísmo às últimas consequências não são apenas os regimes totalitários, construídos sobre a arrogância – ou a fraqueza? – de quem não admite divergência. Ele está mais vivo do que nunca em toda a parte, inclusive no seio da sociedade moderna, que passa por avançada e tolerante. O que fez a Revolução Francesa, que disse ter nascido para libertar a humanidade da escravidão e da tirania, senão massacrar a quem ousava divergir de seus critérios e métodos? Até as religiões que contam em seu seio com uma multidão de mártires, colaboraram – e algumas continuam colaborando – para a eliminação dos “inimigos”...
Para o filósofo e político italiano, Augusto Del Noce, o maniqueísmo contaminou a própria Igreja: «Para o pensamento católico de sempre, o esquema que interpretava a história e seus acontecimentos passava pelos antônimos fé/descrença, religião/ateísmo, devoção/impiedade, sagrado/profano. Mas, ao aceitar as categorias da modernidade, a perspectiva de muitos homens da Igreja também aceitou um novo esquema, sintetizado nas dicotomias: progressista/conservador, direita/esquerda, reação/revolução. A interpretação religiosa da história foi substituída pela interpretação política. Às categorias tradicionais de verdadeiro/falso e bom/mau sucederam as de “progressista” (é o novo “santo” da atualidade: ninguém segue o Evangelho se não for da esquerda!) e “reacionário” (o pecador por excelência: quem é da direita é anticristão).
“Na nova escala de valores de certos eclesiásticos, o verdadeiro antagonista com quem o cristão deve se confrontar não é mais o antirreligioso, o blasfemador, o ateu. Eles são vistos como próceres de um cristianismo anônimo e nobre, cujas acusações os cristãos devem acolher com reverência contrita, fazendo de seus postulados um tesouro salutar. O verdadeiro inimigo é o integrista, ou seja, o católico que toma a sério a própria fé, que não se conforma em vê-la reduzida a um sentimento humanitário ou a um valor comum, mas a transforma em diretriz e perspectiva de toda a sua atividade”.
Para o maniqueísmo, os ímpios e os pecadores estão sempre na margem oposta. O que se deve fazer é lutar e destruí-los – para que nós, os bons, tomemos o seu lugar! Até o dia em que Deus deixa cair a casa e se descobre que o bem e o mal estão presentes no coração de cada homem, como experimentava São Paulo em sua própria carne: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. Ora, se faço aquilo que não quero, não sou eu que o faço, mas o pecado que habita em mim. Quem me libertará deste corpo de morte? A graça de Deus, por meio de Jesus Cristo!” (Rm 7,19-20.24).

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados, MS
Fonte: www.cnbb.org.br

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cineasta Moira Toledo defende o uso da educação audiovisual na inserção social

“A percepção da sociedade é que os jovens devam ser educados para a mídia, pois os jovens são catalisadores das mudanças sociais brasileira. Se utilizarmos a educação audiovisual para melhorar a educação do país, teremos uma sociedade melhor, mais crítica e voltada ao social”, disse a professora da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), pesquisadora e doutora em educação visual, Moira Toledo, no painel “Documentário, ficção e vida cotidiana”, da manhã de hoje, 19, do 7º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom). Moira falou sobre a qualidade de ensino com a utilização de recursos audiovisuais e a mudança de comportamento das crianças que se utilizam desse artifício.
Segundo Moira Toledo, após ministrar aulas de audiovisual para crianças de várias comunidades carentes do Rio de Janeiro, ela afirmou que consegue perceber a mudança de comportamento das crianças e jovens. “Nossa sociedade precisa ser educada a decifrar o que se passa na televisão. Precisamos ser mais críticos com o que nos é imposto todos os dias. E com as oficinas, as crianças conseguem entender mais como é feito os programas de TV, como manipular uma câmera e principalmente, o que aquela mensagem que passa a TV quer dizer”, explicou.
“Como preparar a juventude pra fazer uma leitura crítica da Televisão? Fazer uma construção ou uma desconstrução do que é feito na televisão? Ensine arte visual!”, exclamou Moira.
A professora Moira fez um levantamento para saber quantas entidades, no território nacional, trabalham ou trabalharam com arte visual nas escolas públicas desde o ano de 1995. No seu estudo, Moira descobriu que até o ano de 2009, 132 entidades trabalham com áudio visual como meio de inserção social, sendo 17 estados, mais o Distrito Federal (DF), em 38 cidades diferentes, 68,1% ainda estão ativas e 28% inativas, atingindo 25.665 alunos atendidos e 3.233 vídeos produzidos.
Mesmo com todos esses dados, Moira afirma que pelo menos 400 professores ensinam arte visual sem nunca ter lido um livro sobre o assunto ou feito um curso de capacitação. “Mesmo sem ter feito um curso sequer, o professor continua ensinado arte visual na prática, porque acredita que aquilo está ajudando a mudar a mentalidade dos jovens”, disse Moira.
“O cinema de periferia é no fundo, no fundo, conta a história de vida dos cineastas”, finalizou Moira Toledo.
Fonte : http://www.cnbb.org.br

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A importância da comunicação na vida da Igreja

Nestes dias acontecem dois grandes eventos relacionados com a comunicação: o 1º Seminário de Comunicação para os Bispos do Brasil e o 7º Mutirão Brasileiro de Comunicação. Encontros estes que querem aprofundar a importância desse assunto para a missão evangelizadora da Igreja.
Quando falamos em comunicação, estamos nos referindo ao processo comunicacional e a toda e qualquer forma de transmissão de mensagens, conteúdos ou informações para outras pessoas. O termo comunicação é abrangente e não se restringe apenas aos meios midiáticos (rádio, TV, jornal impresso, site etc.), mas a toda e qualquer forma de relacionamento humano.
Falar da Comunicação como espaço sociocultural para se realizar a evangelização no mundo contemporâneo significa abordar, sobretudo, um contexto de sociedade que se transforma numa velocidade alucinada, marcado pelos avanços tecnológicos, principalmente pela era digital, que provoca mudanças sociais e de costumes, onde o mundo das comunicações se apresenta como uma área cultural de grande importância a ser refletida pela Igreja.
A Igreja, em sua missão evangelizadora, tem que comunicar Jesus Cristo, Senhor da Vida, nosso Salvador! Para comunicar essa Boa Notícia supõe-se que a pessoa que o faz seja evangelizada e não apenas saiba as técnicas da comunicação. É a Igreja e sua missão que falam por si mesmas há dois mil anos e que tendem a ocupar um espaço muito maior no terceiro milênio. Esse fato tem relevância quando percebemos que estamos inseridos nesse meio e fazemos parte dessa história. Essa é a história que nos compete. Somos chamados a atuar e a ser "instrumentos de salvação" na história vivida de nossa cotidianidade. Esta sociedade midiática é o "lugar teológico" para cada um de nós, cristãos!
A principal imagem da Igreja é Cristo nos mistérios da encarnação, morte e ressurreição. Sendo assim, a Pastoral da Comunicação tem uma importância muito grande na vida de qualquer paróquia, pois tudo o que é feito e realizado em nossas comunidades tem como objetivo a evangelização.
Sabemos que não existe evangelização sem comunicação. Evangelizar implica necessariamente em comunicar. Até mesmo o testemunho de vida como ação evangelizadora é um pressuposto e também uma forma de comunicação. O ato de testemunhar é comunicar com a própria vivência a mensagem do Evangelho. As pessoas testemunham porque outras entendem e captam a mensagem que elas transmitem através da sua forma de viver. E as mudanças rápidas das tecnologias de comunicação têm a ver com a vivência da fé cristã, quando pensamos, por exemplo, que estamos imersos numa cibercultura, a cultura virtual, que expressa o surgimento de um novo universo, sem totalidade. Um universo de técnicas, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem e que exercem influência sobre a fé e a vivência da religiosidade.
A Pastoral da Comunicação cumprirá o seu papel em nossas Dioceses, Paróquias e comunidades quando assumir a formação e o compromisso de conscientizar todos os ministros ordenados e os agentes de pastorais da necessidade de se comunicar, e comunicar-se bem. Só comunica quem tem algo a dizer. E nós temos a mais importante mensagem, conteúdo, a notícia e informação a ser anunciada: a pessoa de Jesus Cristo. Trata-se, então, de estabelecer um diálogo entre Evangelho e comunicação, aprofundando as palavras de Paulo VI, no documento sobre a evangelização Evangelii Nuntiandi, que afirma: "a ruptura entre o Evangelho e a cultura é, sem dúvida, o drama da nossa época" (EN, 20). Esta expressão é reconfirmada por João Paulo II em outro documento, sobre as missões, Redemptoris Missio (37).
Neste contexto, é preciso levar em consideração, entretanto, que não é apenas a existência de novos aparatos tecnológicos (estamos na era digital!), mas trata-se também de conhecer, compreender a revolução de linguagem que estamos vivendo nesse início do terceiro milênio. Mudam os paradigmas, sobretudo os métodos para explicitar a fé. Daí a importância e o convite para a Teologia conhecer, refletir e "iluminar" esse revolucionário "lugar teológico", que sempre mais provoca a mudança de referências, linguagens e métodos pastorais na evangelização atual.
Essa missão, por si só, exige de cada um de nós a excelência na comunicação. Comunicar é dever do cristão, um compromisso que assumimos com a Igreja de Cristo em anunciar o amor de Deus a todas as pessoas.
O Documento de Aparecida nos exorta a uma Conversão Pastoral. A Pastoral da Comunicação de toda a Igreja quer se abrir a esta mudança, deixar-se guiar pela ação do Espírito Santo que comunica em cada um de nós a presença viva do Cristo Ressuscitado. Queremos buscar a excelência em todas as formas e meios de comunicação, com o objetivo de evangelizar com renovado ardor missionário. Esta é a nossa missão, que nestes dias, aqui no Rio de Janeiro, bispos provenientes de todo o Brasil participam do SECOBB, e na próxima semana haverá a oportunidade de milhares de pessoas interessadas em construir juntos a comunicação participarem do Muticom.
Que todos nós possamos continuar comunicando com renovado ardor a Palavra da Vida!
Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ

Fonte: http://www.cnbb.org.br/